terça-feira, 4 de setembro de 2012

Só por hoje...

Não é fácil passar fome. Mais difícil que isto é passar vontade e eu sou cheia delas (ódio de mim neste momento!!!).
Tudo aconteceu quando eu ainda estava no colegial. Lá pelos meus 15 anos. De família católica, todos os anos ajudava na festa em louvor a São Roque. Eu era uma garçonete bem simpática..rsrsrs...
Foi quando, numa destas festas, meu pai voltou pra casa nervoso e disse - com meia lágrima nos olhos, porque ele era dramático - "você era a menina mais gorda da festa". Claro que minha mãe não ia perder a oportunidade e foi logo soltando "a perna tá só celulite".
Acreditem, isto meu traumatizou. Não porque eles eram pais rudes. Não porque não me tratavam com carinho. Mas, porque era verdade: eu era gorda. Tinha 15 anos, 1,52 de altura e 58 quilos.
Foi aí que eu resolvi mudar pela primeira vez. Comecei a fazer caminhadas todos os dias. Me enchia de IN Natura. Era shake, sopa, gelatina e bolacha água e sal. Uma delícia metira!.
Nesta maratona cheguei aos 47 quilos. Mas, no lugar dos elogios que sempre sonhei ouvir, escutava "nossa, você tá doente? tá amarela". Ninguém me achou muito bonita.
Me encontrei com 53 quilos e segui a linha até entrar na faculdade, quando a balança mais uma vez disparou para os 58 quilos. Resolvi acreditar que era assim que eu era, baixinha e gordinha. Ok! Mas, a balança resolveu ir pra 62 e eu tomei remédio.
Lembro da boca seca, de uma agitação dentro da alma e dos cabelos que caiam. Não sei dizer ao certo que remédio tomei nesta época, mas de todas as tristezas que ele me trouxe a pior foi a queda de cabelo, que depois disso nasceu enrolado. Beeeem enrolado!!!!!
Lógico que quando o remédio terminou eu engordei tudo de novo. Aí coloquei a culpa na faculdade e continuei minha vida assim: gorda, bem resolvida e feliz.
Quando comecei a namorar, a pança mais uma vez voltou a incomodar. Claro, eu queria ser A GOSTOSA. Foi aí que conheci a Sibutramina e juro pra vocês que nosso relacionamento foi ótimo. Não tive qualquer sintoma absurdo tirando a sede. Fui novamente para os 49 e fiquei linda, apesar do meu marido (na época namorado) viver dizendo que eu não tinha bunda.Quem precisa de bunda quando não se tem barriga? Eu estava ÓTEMA!!!!
Minha relação "Sibutramina e eu" terminou quando comecei um novo frasco de pílulas e - pasmem!!! - não fez qualquer efeito. Eu sentia uma fome absurda! O sonho encantando durou seis meses e virou pesadelo quando mais uma vez fui parar nos 60.
Novamente, cometi o erro de achar que 60, talvez, fosse meu código genético ou vontade divina, sabe lá, e me aceitei. E segui gorda, não tão bem resolvida e um pouquinho infeliz de vez em quando.
Quando a história de casamento tornou-se real na minha vida, como que por obra do destino Deus colocou a mão e, dos 60, fui -sem perceber- para 57 quilos. Olhando pro passado eu juro que não consigo entender porque nem assim resolvi entrar numa academia. Eu teria sido uma noiva muito mais linda!
Meus 57 me abandonaram quando cheguei em Natal, na lua de mel. Fiquei em um resort com cinco restaurantes tudo incluso: japonês, francês, pizzaria, tapiocaria e self service com comidas típicas. Lembro que, quando voltei, as pessoas diziam "nossa, você tá diferente!". A balança, ao contrário gritou "comeu igual uma porca e, em sete dias, você tá pesando 64".
Confesso que foi um choque. Mas, não tão forte assim. Eu estava tão feliz, qual o problema em ser gorda? E eu segui assim: feliz, casada e gorda.
Até que um dia meu marido disse "nossa, sua barriga tá enorme!". Neste dia eu tinha um encontro com amigos e a calça não fechou. Acho que foi a primeira vez que chorei igual criança. As pessoas falam em preconceito, mas, cá entre nós, o que fica bonito numa gorda? Nada!
E não sei o que aconteceu comigo porque, num desespero tremendo pra emagrecer, fui parar nos 68. As roupas da minha mãe começaram a ficar boas em mim e eu juro que achei que era este o meu carma: ser gordinha como a minha mãe, a minha avó, as minhas tias. O problema é que, aos 28 anos, a minha mãe era magra e eu já estava bem longe disso.
Passei dois anos assim, usando manequim 40 e achando que eu tinha nascido pra isto. Mas, lógico, com o passar do tempo, tive que comprar calça 42 e, foi aí que tomei a primeira atitude inteligente: entrei numa academia de dança.
Eu não tenho nenhuma coordenação. Sou o tipo "barata tonta da baygon". Mas, adorava as aulas, apesar das coreografias não aceitarem meu excesso de peso, tampouco meu despreparo físico. Eu ajoelhava e gemia pra levantar.
Aí fui pra musculação. Odiava!!!! Todos os dias eu odiava!!!! O combinado era que eu fosse  três vezes por semana. Eu aparecia uma vez por mês e olha lá. Lógico, fiquei gorda.
Cheguei nos 69 e uma pessoa olhou e disse "nossa, como você tá gorda, tá feia, seu marido vai largar de você!". Chorei muito. Muito mesmo.
Regularmente passei a ir três, mesmo ainda odiando com todas as minhas forças.O objetivo nem era ser magra. O foco era não virar obesa. Deste jeito, consegui sair dos 69 e voltei para os 64. Ficou menos pior.
Com o tempo, comecei a me acostumar com a malhação. Até sentia falta quando não ia. Passei então a ir todos os dias, de segunda a sexta. Fazia musculação de segunda, quarta e sexta e de terça e quinta fazia esteira. Não emagreci nadinha, mas fiquei muito mais tranquila.
Não vou dizer que durante este período não fiz nenhuma merda, porque fiz muitas delas. Tentei a sibutramina de novo, tomei fluoxetina, complexo com testosterona. Passei a almoçar só salada, fiz sopas mirabolantes e dos 64, passei a ficar numa constante que ia dos 63 aos 61 conforme a TPM. O pior é que a maioria  das cagadas teve apoio de médico e de nutricionista. Até que encontrei A NUTRICIONISTA.
E agora começa uma vida de A.A (Alcoólicos Anônimos): só por hoje não vou comer igual a uma vaca!
Só pra que fique bem claro não estou me achando a Sabrina Sato.Mas, não custa tentar, né? Em quatro meses, perdi 6 quilos. Tonifiquei minha pele, perdi gordura, ganhei uns gramas de músculo e comecei a me sentir.
É pra não desanimar que resolvi dividir com vocês meus altos e baixos, porque nem sempre tudo são flores e nem sempre serão. Da mesma forma, tento em palavras reforçar minha determinação em chegar na magreza absoluta de ser.