segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Pronta pra encarar os fatos

Ela finalmente encarou o espelho; tão estranho repentinamente.
Quem era aquela mulher que ali lhe acenava? Onde foi que ela tinha deixado de ser quem era pra se tranformar naquela que agora lhe parecia tão diferente?
Lembrou dos sonhos que teve, de tudo que fez, das batalhas enfrentadas. Lembrou das lágrimas e dos risos e se viu querendo deixar de ser verbo. Já não queria lutar, nem sonhar. Tampouco estava disposta a aceitar. Também não queria esperar que a chuva passasse, que a roupa secasse, o cabelo alisasse, o corpo suasse, os quilos sumissem, o dinheiro entrasse,  o carro pegasse.
Definitivamente, sua última conjugação seria "reinventar".
Queria ser sujeito  e sujeito determinado: ela! E pensou no substantivo perfeito: liberdade! Ela era sujeito com adjetivo: leve!
Como na música, deixou que um pinguinho de tinta lhe transformasse e com um círculo ela fez seu mundo. Um mundo novo, sem pretensões. Sem tempo para remorso e sem angústia nas expectativas.
E assim, quando ouviu só a si mesma, aquela diante do espelho lhe sorriu e algo naquele riso revelava alma e luz.
Ela se reconheceu! E riu de volta. Riu até que a última lágrima cedeu à uma gargalhada estranhamente satisfatória. Já não existia espaço pra medos nem sonhos frustados, nem sapato apertado.
Foi quando o Sol apareceu na janela e lhe convidou pra viver.E, de vestido florido, chinelo de pedras e colar de contas, lá foi ela reescrever sua história e - desta vez - faria uso de todas as cores do seu giz de cera.




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